segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O frio e o coração de Angélica


Ela queria parar. Colocar os pés no chão e descalça sair a pisar em tudo que lhe aborrecia. Queria olhar para o lado sentir-se tranqüila, rir de quem lhe devia e chorar pela tristeza que sentia. Sentada à frente da janela, ali estava pensativa. O que poderia ser mais aflitivo que a espera? O que seria mais angustiante do que observar os ponteiros do relógio para a experiência adentrar pelas frestas? Diziam-lhe que o tempo curava, mas ela adoecia. Diziam que o tempo passava, mas ela regredia.
Foi quando Jorge, seu amigo de infância, lhe disse que em uma viagem de longa distância partiria. Sem que pudesse pensar, se despediram e ele pediu-lhe sua visita. Como um vento depois daquela partida, ela corre em direção ao futuro incerto, à procura de vida. Como se fosse distraída ao que lhe passava, mas dentro de um mundo só seu, ela vagueia a procura de uma resposta para a típica solidão cinzenta que presenciava. Como num raio vertiginoso, olhares se encontram. Era o grande amor da sua vida, indiferente à sua imagem, indiferente à sua dor. Em um piscar de olhos se esvaecesse e, por entre os passos largos e ligeiros finge, como um ator, sua dureza e rancor.
Seu amigo Jorge a avisou, seria dura esta estadia. Mas não contava que o coração lhe dessa essa dica. E foi passando à frente do lugar frio, que Angélica desejou aquilo que naquele instante, lhe parecia uma tentação. O convite para virar estátua no Madame Tussauds lhe chegou em boa hora. Por mais que tivesse o sucesso e o que queria, o coração era vazio de alegria, sem propostas inovadoras e, era daquele jeito e naquele local, que seus dias passariam. Ela finalmente parou e deixou o coração partir.
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